A indústria 4.0 veio para ficar. Mas como devemos administrar/controlar o fornecimento dos materiais e matérias primas para evitar solução de continuidade?
A Indústria 4.0, requer que os materiais a serem utilizados nos seus processos de fabricação acompanhem o planejamento das atividades operacionais estabelecidos, com algumas variações programadas ou não, mas requerem embalagens apropriadas, identificadas, com quantidades e qualidade corretas.
Vários processos e metodologias utilizados pelos fornecedores, entre elas a do Sistema Lean, podem, de certa forma garantir o abastecimento até pelo Just In Time. Já conversamos sobre isso em nossos artigos anteriores.
Sabemos que o Just In Time (JIT) só é vantajoso quando aplicado em toda a cadeia de valor, desde o fornecedor, na fábrica e no cliente final. Requer muita disciplina, comunicação e segurança. O desafio é o de como garantir que nossos fornecedores façam as entregas conforme o previsto, este assunto foi também analisado nos artigos mencionados anteriormente.
Nas empresas em geral, os setores que controlam a performance dos fornecedores são normalmente os das áreas de Compras, PCPM e Qualidade, que avaliam as entregas, os preços e a qualidade dos produtos entre outros. Existem também setores que realizam avaliações sistemáticas nas instalações dos fornecedores para evitar desvios nas especificações e dos programas. Promovem a Qualidade Assegurada.
Nosso pensamento é de que isso é fundamental para garantir o JIT, mas existem outros fatores que, normalmente não são considerados e que podem afetar o abastecimento, vamos explorar exatamente esta situação.
Temos que saber avaliar se o fornecedor pode garantir a continuidade das entregas conforme o previsto a médio e longo prazos, de como são tomadas as decisões sobre investimentos nas empresas. Saber qual a importância da nossa empresa junto ao fornecedor. Quem toma as decisões na organização, se nas empresas familiares há situações conflitantes. Quais os controles sobre as matérias primas e materiais em geral. Como controlam os custos. Quais os endividamentos de curto e longo prazos.
Enfim uma série de informações de difícil acesso, que seriam necessárias para proporcionar maior tranquilidade no abastecimento. Logicamente, situações totalmente fora dos controles dos fornecedores podem existir, como por exemplo as dificuldades que enfrentamos atualmente devido a pandemia mundial com a Coronavírus, mesmo assim, tendo um pouco mais de visão e compreensão sobre as atividades globais, algumas providencias preventivas podem e devem ser tomadas.
A figura a seguir mostra o que se deve buscar nas avaliações do risco de desabastecimento por parte dos nossos fornecedores.
Estas avaliações podem nos proporcionar maiores controles sobre a situação atual e futura das empresas fornecedoras, coisa que normalmente não se leva em consideração pelos vários departamentos das empresas cliente. É importante salientar que para serem realizados estes trabalhos, os profissionais que realizarão estas tarefas tenham o preparo adequado e com muita experiência no trato com as pessoas e na obtenção das informações necessárias, visto que, em sua grande maioria, são informações consideradas confidenciais, de muita dificuldade de obtenção e com grandes resistências. As avaliações são pontuais e mostram a situação em um determinado momento e requerem seguimentos periódicos posteriores.
Situação do Meio Ambiente e RH
Controles sobre Meio Ambiente e RH, sobre a situação trabalhista, indicadores de satisfação no trabalho, segurança no trabalho, Influência sindical, rotatividade de pessoal, controles ambientais e respeitos às normas, tratamento de efluentes e outros materiais poluidores, definição dos destinos das sucatas etc. Até mesmo, o que é muito difícil e raro, sobre a utilização de menores e mão de obra escrava.
No Setor Produtivo
Neste setor as particularidades estão mais relacionadas ao sistema de manufatura que é utilizado com vistas às garantias dos fornecimentos, como por exemplo se utilizado o SISTEMA LEAN MANUFACTURING e em que nível Lean se encontram. Existem 5 níveis distintos a serem avaliados em relação ao Lean, considerando o JIT, O JIDOKA E O HEIJUNKA. Isto pode ser realizado através de um sistema que considera pontualmente as atividades dos setores envolvidos diretamente e indiretamente com o sistema produtivo. Infelizmente isto não é muito utilizado pelas empresas, por total desconhecimento sobre a metodologia, que avaliando a situação em cada tópico, mostra a situação atual e o caminho a ser seguido para as melhorias necessárias.
Há de ser considerado fundamentalmente, o comportamento da sua cadeia de suprimentos, para evitar solução de continuidade dos seus materiais que paralisariam e comprometeriam a produção e, consequentemente, o atingimento das metas estabelecidas. Devemos investigar se os investimentos nas áreas produtivas estão relacionados com o aperfeiçoamento da produção e se o ROI está sendo cumprido. Verificar o Sistema de Manutenção utilizado e se realizam as 9 COLUNAS DO TPM. Atentar para que o atendimento aos programas de vendas em processo JIT, seja utilizado, pois é fundamental para a garantia da satisfação dos clientes.
No Financeiro / Fiscal
Avaliações das áreas fiscais e financeiras, incluindo contas a pagar e a receber. Verificando se existem protestos pendentes, tamanho da monta se existente, tempo de pendência etc. As execuções fiscais que possam comprometer o funcionamento normal da empresa. Os indicadores financeiros devem ser entendidos com muito critério, ou seja, fazer uma avaliação da saúde financeira para evitar surpresas desagradáveis que comprometeriam o abastecimento.
No Aspecto de Governança
Avaliar se os controles estão estruturados de tal forma que permitam maior índice de segurança das informações. Outro ponto de grande importância é a situação societária (se houver) e a aparente situação dos sócios. Analisar a estrutura de comando e de tomada de decisões e, nas estruturas familiares, se há programa de sucessão ou de preparação de profissionalização da empresa. Algo semelhante deve ser feito nas empresas profissionais nacionais e estrangeiras.
Todos estes fatores podem, de uma forma ou outra, influenciar no abastecimento das empresas, notadamente na Indústria 4.0, que requer maior presteza e qualidade nas atividades de suprimentos. Logicamente os clientes teriam muitas dificuldades de obter os dados dos fornecedores mostrados acima. O que pode ser feito através de empresa terceirizada especializada nestas atividades e que façam acordos de confidencialidade das informações coletadas e divulgar somente as que forem liberadas por eles. Uma outra grande vantagem para os fornecedores é a de que através destas avaliações e análises, ficam cientes das reais situações encontradas podendo promover ações de melhorias nas suas organizações.
Jairo Ramalho
Engenheiro Mecânico de Produção (FEI) pós-graduado pela FGV. Especialista em LEAN MANUFACTURING, com aperfeiçoamentos adquiridos nos Estados Unidos com a Shin-Gijutsu e TBM Consulting Group. Conduziu vários trabalhos de Lean Manufacturing em países da América do Norte e América Latina. Trabalhou como executivo na Chrysler do Brasil, VWCaminhões, Black&Decker, Grupo Ultra, IOSHPE- Maxion e TBM América Latina como consultor e Managing Director. Fundador e Diretor da Máxima Produtivismo e Diretor da Divisão de Logística e Transportes do Departamento de Infraestrutura da FIESP. Foi considerado Importante Autoridade Mundial e Lean Manufacturing no México.
